halloween brasileiro

Independente de onde esteja minha vida, ele é como se fosse uma quebra entre espaço e tempo que me permite viajar entre minhas possibilidades, e sempre descansar no colo dele, na boemia dele.. sempre o encontro no fundo do copo de cerveja, na ponta de cada cigarro. É ele.

Com o peito cheio, eu vibro em mil emoções levada pelo timbre da voz e do samba. Ele lava meu corpo com as mãos, com os beiços e cada olhar, ele me despe ali mesmo, me tira o medo enquanto me destrói em cada caminho que passa e constrói em mim, uma nova narrativa do que todo aquele momento pode ser. Ele me tira, me vira, mexe com cada canto e eu sinto nos ossos a mudança à cada palavra sussurada. É uma paixão surrealista que brinca com cada noção, verdade e contra ponto que já fiz sobre minhas certezas. Ele se faz em cada laço sanguineo, encontro de DNAs e cromossomos. Eu quero ser terra pra adubar cada ideia, movimento e vontade que ele quer expelir pro mundo, eu sinto que posso formentar cada sonho e desejo em mim, fazer-me completa no meio de tantas dúvidas dele sobre o que é o amor, a verdade e a vida.

Ele entra em mim como Deus Todo Poderoso, e eu me expando como Rainha de Todas As Coisas, juntos fazemos particulas se colidirem numa nova tese do Big Bang. Adentra em cada entranha se mostrando quem sabe e faz acontecer, toma conta de cada nervo da minha bunda até meu pescoço, ele me revira. Ele sabe me atirar nos extremos, eu gozo de alegria e intensidade de ter tudo aquilo em meu poder. Sinto, subo, pego pra mim o que ele guarda o ano inteiro, e sussurro no ouvido cada segredo que ele acha que eu não sei, que ele tem medo de ouvir até de si mesmo. Meu corpo toma conta do dele, ele se derrete transformando em néctar valioso e leva num vai e vem de sentimentos inexplicáveis, até o lugar onde ninguém sabe o nome.

Encontramos.

Demos de cara com toda a incerteza alucinante que antes, só o samba causava no meio da boemia com sangue na garganta arranhando de tanto prazer. As borboletas que já tinha conhecido antes, por outros corpos, foram transformadas em gotas celestiais do que é vida.

Ele se retira tímido, com medo que eu veja todas as feiuras e escuridão que carrega dentro de si, eu tento segurar seu rosto com cautela e fazê-lo sentir que ali é o entre céus e infernos. Principe de todas as trevas, da cerveja e cria da boemia dos becos cariocas, ele se toma de novo pra si e fecha cada trecho aberto com a rispidez de quem vê o próprio diabo.
Ele sente o coração palpitar com calma e cuidado, mas não pode tocar em seus próprios dedos e tomar controle, então, desfalece ali mesmo sem aviso num suspiro subito.

Fico despida no frio me mantendo viva com a sensação térmica do inferno carinhoso que visitei à pouco, sobrevivendo disso, sem fome e sem sede de mais nada a não ser d’ele.

Uma hora levanto e bato 2 palmas em direção aos céus pedindo por sabedoria, força e gratidão por cada segundo em que ele se fez meu — andou, caminhou e explorou cada curva do meu corpo, e fez samba nele. A gira me carrega de volta.

Ando no escuro pisando nas nuvens que são minhas, mas que voam por causa dele. Coloco em secreto cada palavra que sinto, o tom de cada música e olhar balanceado entre um suspiro e outro. Aguardo de novo. Respiro.

É hora de esquecer em Pandora tudo que foi.
Dona Ivone Lara me guia pelo caminho de quem sente e nega, volto à mim.

Ele segue congelado queimando por dentro, esperando tudo aquilo de novo.

Aguardamos juntos pela próxima junção de mundos, por mais uma brecha no espaço e tempo que faça possível esse encontro de limite — Esse é o encontro entre os mais subversivos do mundo, onde tudo é possível naquele um quarto de segundo.

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